
sábado, 18 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Dia de chuva - parte 3
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Eles
Recorrente medo do receio em si. ♪
Adamantine seguia pelas vielas fracamente iluminadas. Olhava ao redor. A todo tempo. Não parava. Seguia andando, passos curtos e rápidos. Não ia para um lugar específico. Ia.
Ela sabia que sempre seria assim. Sempre os passos furtivos. Sempre o olhar desconfiado. Sempre o mesmo vinho no mesmo bar, sempre no fim. Sempre próximo do fim. Sempre a fuga. Mas nunca se deixaria levar, domar. Por aquilo, ah, aquilo.
Virou uma esquina, virou outra e mais outra
Entrou no já conhecido bar, pediu o já conhecido vinho, pagou com o já conhecido dinheiro. E surpreendeu-se com o desconhecido que o recebeu.
Derrubou o copo. Ele se espatifou de encontro ao piso frio. Derrubou a bolsa, e o pouco dinheiro que ainda levava consigo se espalhou pelo chão sujo do bar. Suas pernas se recusavam a correr. Seus olhos se recusavam a se mover. Seu corpo se recusava a se virar. Sua voz se recusava a sair.
Tudo era inesperado. Possível, mas improvável. Na mente de Adamantine, impossível. Porque não estava previsto. Não estava dentro da rotina. Não estava ali. Não existia. Não, era pensamento. Era apenas isso, ilusão. Ela não queria acreditar. Não queria enxergar. Não queria ouvir, não queria sentir, não queria tentar.
Não queria resistir.
E ali, de frente ao desconhecido, sentiu medo. Mas também felicidade. E se entregou.
E rios de lágrimas surgiram, sob o céu estrelado.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Dia de chuva - Parte 2
A filha de Cecília olhava pela janela. Olhava sua vida passar na sua frente, como um filme. Estava de braços cruzados há cerca de uma hora, na janela do hospital.
- Senhorita Marina? O neonatologista gostaria de falar contigo.
E ela foi. Só para ouvir o que já (não) sabia. “Aparentemente, foi um sufocamento com o próprio muco, senhorita. Sua mãe deve ter ouvido a tosse e foi tentar ajudar, mas chegou tarde demais e se assustou de tal forma que não agüentou a dor.” Marina já tinha ouvido o mesmo diagnóstico de três médicos diferentes.
Não, Lua não poderia ter morrido assim, sem mais nem menos. Tinha algo maior. Tinha que haver. Sua mãe tinha o sono ainda mais pesado do que ela. Como acordaria com a tosse da garota, se dormia no andar de baixo? Como que ela mesma não teria ouvido, sendo que acordou com um ruído leve de um esbarrão?
-Senhorita?
“Não, não era possível. Ele não faria...”
-Senhorita, está tudo bem?
“A não ser que... Mas já faz muito tempo... Ela nem se lembraria mais.”
- Marina, acorda!
Era a voz de sua sobrinha. Estava esperando do lado de fora, mas ao ouvir um baque surdo entrara. Seu nome era Estrela. Tinha apenas cinco anos, mas não sabia o que lhe esperava. Já conseguia encontrar seu brinquedo predileto sem titubear. Dali alguns anos, seria a melhor aluna de geografia. E trabalharia como detetive. Mas não sabia de nada disso.
Marina se preocupava. Estrela era muito nova para saber de tudo o que estava acontecendo, mas ela poderia ser de grande ajuda. Preocupava-se com própria segurança. Seu pai se arriscou demais ao trazer sua irmã e ela ao mundo, arriscou muito mais do que a própria memória.
Quarenta minutos depois, uma garota de cinco anos, seguida por uma mulher de trinta e um grupo de jovens policiais estaria seguindo para o aeroporto.
“Do mar
Vem estrela confiante
Traz no ventre a sorte grande
O primeiro de um milhar”
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
.ahcif a uiac
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Alternativas
Dia de chuva - parte 1
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
patinetes, férias, outono.
cadê?
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Cálice
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
esperanças
a imaginação? é preciso que seja.
o amor? passageiro.
nós? passageiros.
passageiros de um trem. de repente, nos damos conta de que estamos nesse trem, e que a próxima parada é a gente quem decide. nesse trem, conhecemos gente demais, paisagens demais. só algumas ficam. e, para ficar, o tempo não importa: e sim o tanto de significado que coube nesse pequeno tempo de convívio.
as que ficam? essas não. não são meros passageiros do trem: são passageiros de meu coração.
e o tempo? ah, o tempo...
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quinta-feira, 18 de março de 2010
ANGÚSTIA
O cavalinho vai mastigando, escuta e sopra na mão de seu amo... Iona anima-se e conta-lhe tudo...
- Sabe, eu era feliz... Feliz com minha mulher e meus dois filhos. Filhos exemplares eles. Imagine, minha eguinha, imagine se teu potrinho cresce e vá viver à frente da carruagem da Rainha... É o mesmo sentimento, esse de orgulho. Até que fui abandonado por minha mulher... Fugiu com um vizinho, imagine... Hi-i, hi-i... Rio para não chorar. Criei só os meus dois filhos. Minha querida, imagine você só com teus potrinhos, sem teu amor por perto. Foi uma faca que me invadiu o peito, como um rasgo em teu coração. É tristeza demais para um só.
“Cresceram felizes, eles. Cuidei dos dois o melhor que pude. Até o dia em que meu Kuzmá chegou em casa com uma chaga em tua perna. Pensei eu, tolo, ser sujeira, chamei-o de preguiçoso. Faz tempo isso. Foi embora o outono, apresentou-se o inverno e ele ficando cada vez mais branco, cada dia mais fraco. Como a neve. Agora vejo que simplesmente não quis ver tudo isso.
“Aníssia enfureceu-se certo dia. Atirou contra mim palavras fortes, que se quebravam contra minha cabeça dura como pratos indo de encontro ao piso de pedra fria. Fria como eu. Como meu coração, também de pedra.
“Meu filho queixou-se para mim, certa noite, de se sentir mal, com dores em cada centímetro de sua tez pálida. Dei-lhe uma surra. Só agora sinto a aflição de meu filho, seu medo... Mandei-o trabalhar no meu lugar, estava morto de cansaço. Fui cruel... Até parecia a cidade. Só queria a eficiência, os copeques no fim das luas. Não me importei com as vidas.
“Ao nascer do sol, Aníssia me levantou, desesperada. Fora acordar o irmão, e este estava pálido como a lua da ponte Politzéiski. Coincidência, hi-i, hi-i... Levei certos rapazes lá esta noite. Mas me recusei a cuidar de meu filho, a levá-lo para o hospital. Estava furioso, dei uma surra também em minha filha, acusando-a de ajudar o irmão em suas mentiras preguiçosas. Tolo. Aníssia o levou para o hospital, voltando três dias depois.
“Recebi a notícia da morte de Kuzmá à noite. Tentei aparentar frieza, não consegui. Estava doendo às surras que dei, embora tardiamente. embora tardiamente. Olhei para o céu, pedindo perdão, vi ali uma estrela. A estrela de meu filho. Que chorava.
“Perguntei à minha filha o que ele tinha lhe dito. Com a voz entrecortada pelo desespero, demorei mais que o normal para verbalizar essa simples pergunta. Aníssia, notando meu sofrimento, foi breve. Queria que meu sofrimento também fosse breve. Só me disse que o que seu irmão mais desejava era que eu tivesse acreditado nele. Ao menos uma vez. E, pela primeira vez, chorei na frente de minha filha.
“Chorei por tê-la culpado. Por ter batido em meu rebento. Por não ter acreditado e não tê-lo levado à sua última cama.
“Silenciei. Não disse mais nada. Fomos o mais cedo possível ao hospital, buscá-lo e buscar seus pertences. Colocamo-lo na carroça e o levamos para o cemitério. A cada trotar seu, minha eguinha, eu sofria mais. Essas palavras, que você está ouvindo, espero, estavam presas em meu coração. Não saíam. Doía mais e mais. Muito.
“Não tínhamos dinheiro. Tivemos de jogar seu corpo em uma vala comum, para ser esquecido. Situação estranha essa, um pai enterrar o próprio filho, hi-i, hi-i... Perguntava-me porque a morte não me pegou primeiro. Ao menos pouparia meu filho das surras. Imagine, eguinha. Você morreria para poupar teu potrinho, não?
“Enfureci-me então. Gritei, prorrompi em lágrimas, rompi meu silêncio. Corri até você, tão leal, e a impeli para a cidade. Abandonei Aníssia. Fui covarde. Não conseguiria mais ver a lembrança, senti-la a cada nascer do sol. Viver no meio dela.
“Então você se lembra do que fizemos, não? Ou melhor, da estultícia inconsciente que cometi... hi-i, hi-i... Gastei o que tínhamos nos bolsos coma bebida, acreditando tolamente que ela me apagaria a memória... Aprendi na prática que não é tão simples assim. Até ontem, não é? Decidi que iria guardar minhas moedas... Tentar voltar, tentar enfrentar o incêndio da vida, com as salamandras.
“Não tendo mais a bebida, tudo começou a voltar à minha cabeça... As surras, as gritarias, a morte. Tentei os passageiros... hi-i, hi-i... Tentei acreditar que eles me ouviriam... além de você, minha eguinha, ninguém me ouve...”
...Me ouve, me ouve, me ouve... Era o eco que reverberava nas paredes do estábulo quando Iona, olhando para as estrelas, se juntou a seu filho. Um eco como um pedido, uma súplica... Me ouve...
“hoje à noite
lua alta
faltei
e ninguém sentiu
minha falta”