terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Aquela coisa chata, que incomoda e dá saudades.

"Não, eu não quero sair. Já disse. Não, ele me persegue... Não adianta, não adianta, ele vai atrás... Medo? Não... Só quero que ele vá embora, ele me assusta... Me deixa na dúvida, a dúvida é cruel! Mas não, eu não quero ir com você! Se eu saio daqui, ele vai estar à espreita, em cada esquina... Ele não é o mesmo, não é, não é! Ele muda, de acordo com o que for mais conveniente, me mata aos pouquinhos... Eu não vou, já me decidi! Pelo menos nisso a dúvida também não me persegue... Já falei! De nada adiantam seus argumentos! Saia daqui! Você sim me amedronta. Eu não posso, não posso levantar bandeira branca, devo resistir. Porquê? Ora bolas, só assim é capaz que ele saia. Não, não tenho certeza. Dois anos? Não, é só impressão sua. Escuta aqui, já falei que eu fico assustada! É como se ele fizesse parte de mim, fosse pessoal e intransferível, único e exclusivo... Ele deve estar lá fora a essa hora, ouvindo tudo. Claro que sim! Não, não o vi, mas eu sinto que ele está aqui, é uma sensação estranha, como se minha respiração ficasse mais difícil. Tu não entende? Dá uma olhada ali. Não, mais pra esquerda. Isso, o caderno amarelo. Dá uma lida. Gostou? Ah, obrigada. Mas entendeu? Claro que tem motivo! Ele não é um assassino serial, não vai ficar satisfeito dando uma facada nas minhas costas assim de repente, mas vai me torturando até eu me entregar! Aí sim ele dá o golpe final. Como que eu sei? Não sei. Porque eu gosto dessa sensação. Me dá saudade dele às vezes, dessa sensação de que ele está por perto, de que ele me persegue. Já vai? Não, não vou contigo. Coloca o caderno de volta, por favor? Se ele espiar pela janela não vai notar nenhuma diferença. Coloca mais café na xícara? Se eu levantar vou ver meu tênis, e vou me lembrar dos cadarços. Isso. Só fecha a porta quando sair."