sábado, 15 de outubro de 2011

zangão, prazer efêmero.

Acorda, uma manhã de puro sol
De mel, quase em flagrante cristaliza
Concerne às janelas leve brisa
As nuvens a seu tempo: caracol.

Resiste, a todo custo, e fisga o anzol
Que a toda esperança escraviza
De pé, olhos errantes, agoniza
Aguarda a luz errática, farol.

Destina aos ratos seu caminho errôneo
Persegue vã por um atalho guia
Sem mais saber, pede que seja idôneo

Atenta à mentira do bom-dia
O cheque-mate, seu olhar gorgôneo
E parte, com a noite, a harmonia.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Presente

     Chega com a encomenda debaixo do braço, a contragosto. Larga o volume abandonado em cima da TV, faz jantar, pipoca, transita por alguns canais vazios. Adia o encontro, a coragem. Segura com os dedos em pinça as páginas e as abre, como quem disseca. Lhe puxa ao consciente como quem vomita. Agonia. Persiste por mais algumas letras miúdas. O inocente se torna o assassino. O assassino é inocente, e o juiz é culpado. A ruína lhe volta às lágrimas e atira bigornas a seu corpo leve. A memória do engano se confunde à tragédia metódica de todas as manhãs. Uma janela aberta e um escape de cor, mãos rudes e faces hepáticas. Não quer ver, nem pintado a ouro.
     Surge e brota de todos os cantos. Está. Em cada pulo que amputaram. Em cada curva, em cada vão. Em cada pedra no caminho, em cada verso do Drummond. Não foge, não fica. Lida e contorna, mas retorna. Cada ensaio é um tombo a menos.
     Empurra as últimas frases goela abaixo, regurgita amarguras e retém cada padrão, embrulha bombas em papel de presente.