sábado, 15 de setembro de 2018

Lâmpadas de emergência sem bateria

Os primeiros e segundos violinos cederam no terceiro compasso. Os violoncelos, ostinatos, sucumbiram ao quinto sistema. Na segunda marcação de ensaio, tampouco os trombones e fagotes permaneciam. O maestro também quebrantava-se. 
Ela deixara de ouvir para onde ia a música. Levantou-se e, a passos magnéticos, tenta caminhar orquestra afora. 
Cada levantar de calcanhares lhe parece sua maior escalada, sem enxergar quantos degraus por vir. Sobre suas espáduas, três toneladas e meia: o sono não dormido, o abraço não dado, a aula não vista. Corre e estende a mão nas nuvens - encontra um mi bemol, levemente desafinado. 
Dispneia ou desalento ao repouso? Força grau 2 para o despertar? A que lesão corporal corresponde o não-cuidado? Seria acaso um vírus, um bacilo gram negativo, um acidente ofídico? 
Apoia os pés no que lhe soa o chão. Mas há muitos compassos não há chão, apenas um acalanto em tom menor: sereno, pero no mucho. Um tempo morto - "um grito pronto pra saltar das paredes da garganta". 
Seu olhar já se esfumaçava, enquanto mil laços amarelos tremulavam no escuro.