sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Conexões - II

Entreabre os olhos, empurra os pés relutantes de encontro ao piso frio e pisca. A veneziana continua aberta, e uma ponta de sol engatinha no horizonte. Chama a força para se pôr em pé, não vem. Chama então a trégua. O caminho a leva ao tropeço, põe de volta, de onde nunca deveria ter saído. Acende uma vela ao depois e ao talvez. Reza pelos milagres por vir. Escolhe tua família...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Conexões - I

E se desfaz em nuvens, aquela que não é mais. Clama por quem te deu a vida, grita às janelas fechadas e despenca no mundo, frio. O vapor sujo das arandelas se mistura à fumaça de cigarros baratos, fazendo em matéria os sonhos inconclusos. Pega um fósforo e queima seu sorriso, ganha um presente do céu, a chuva. Regado a aromas-disfarce e beijos roupados, o dia se esfarela em luz, e a poeira branca das esquinas rescende a luz, e seu olhar antigo é tomado por luz, e aquele peso no estômago é luz. Dor lancinante, faca de prata, face do insuporte. Uma gota de esperança pinga. E se desfaz em nuvens.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

alvor

Cai o mundo. Aquele mundo, lembra-se? Aquele mundo de estrelinhas no teto e nuvens sem-teto, aquele mundinho de palavras escassas e desentendimentos em excesso... Pois é, 'tá caindo lá fora. Acho que o mundo cansou de si mesmo, e resolveu pular da ponte, pra ver se resolve. No mínimo põe um prego na roda. O mundo se suicida do lado de fora da janela, e nós esboçamos as primeiras reações ao fim. Olhe também à sua volta, não só ao seu umbigo sujo e fedido. O camarada ali agachado era outrora aquele mão-de-ferro, lembra-se? Se desfaz em desespero. Aquela garotinha não desgrudou o olho da ruína, me espanta. É sempre aquela dinâmica do trem. Passa um, passam dois... Quando vê, já passaram tantos trens e tanta gente que não há tempo para pensar quem queremos levar nessa viagem, nem para onde iremos. Passamos tanto tempo distraídos que um bocadinho de concentração não será mais relevante. Dizem que quando percebemos o fim, nossa vida inteira passa em frente a nossos olhos. Todos esses trens, de novo; mas apenas assistimos de fora, de longe. É o tal do passado...

Tem gente que pira, tem gente que gosta e sente até prazer. Esse passado está aqui presente apenas para garantir nosso futuro. O passado é um pai que nos olha e protege. Um pai construído pelas nossas mãos calejadas, um pai com quem não temos obrigações morais. É uma tentação e tanto construir o passado... Pena que já passou. Quem sabe, numa próxima.

Ou até agora, não é mesmo?

Afinal, com o mundo caindo, não temos nada a perder. Veremos como vai ser esse futuro, filho...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

katar aves?

O livro aberto já não traz novos mundos, e o calor ígneo de suas páginas agora faz suas mãos hirtas. O estalar prazeroso das juntas de seus dedos se curvando em torno do corpo de uma caneta foram substituídos pelo martelar incessante de pequenas teclas. Suas vértebras quase podres buzinam em seus ouvidos quase moucos por uma melhor postura, ou uma cadeira nova, daquelas sempre presentes em consultórios médicos. O que vier primeiro, estará esplêndido a seus olhos míopes. Ganhara um pesadelo de presente, e agora tratava de transfundi-lo em utopia. Assim, sobraria mais espaço para os sonhos...