domingo, 19 de maio de 2019

Amar-nos-emos

Quero um amar sem finalidade. Um amar intenso e sem relógio.
Um amar de olhar as estrelas numa noite fria ao som de uma cidade, e se sentir abraçado pelo vento.
Quero amores sem prazos, sem precisões. Acolhidas não perecíveis. E, quando nascesse o sol, uma metamorfose em um dueto: descansando em fermata, até quando quiser durar, em ressonância.
Quero abrir os olhos e ver cores, não grades. Abraçar um amor de percurso, por onde estradas levarem, enquanto levarem. Quero ouvir tua voz pelo que me diz, e ensurdecer para o medo de não ouvi-la.
Quando vejo o fim da noite bater nas janelas alheias, portas entreabertas, meus passos são cadenciados - as solas dos pés ainda caminham nos teus trilhos. Quero um amar de maquinista: retorna às mesmas estações, vê crescer as flores nas dormentes, não se prende a uma só encruzilhada. Quero um amor em ré menor, mas também quero um amar atonal, dodecafônico, dissonante. Amar se acostumando ao trítono.
Quero amar meu próprio enlace, amando um rodopio no teu. Que meu precórdio não arda pela ausência do primeiro.