segunda-feira, 5 de setembro de 2011

alvor

Cai o mundo. Aquele mundo, lembra-se? Aquele mundo de estrelinhas no teto e nuvens sem-teto, aquele mundinho de palavras escassas e desentendimentos em excesso... Pois é, 'tá caindo lá fora. Acho que o mundo cansou de si mesmo, e resolveu pular da ponte, pra ver se resolve. No mínimo põe um prego na roda. O mundo se suicida do lado de fora da janela, e nós esboçamos as primeiras reações ao fim. Olhe também à sua volta, não só ao seu umbigo sujo e fedido. O camarada ali agachado era outrora aquele mão-de-ferro, lembra-se? Se desfaz em desespero. Aquela garotinha não desgrudou o olho da ruína, me espanta. É sempre aquela dinâmica do trem. Passa um, passam dois... Quando vê, já passaram tantos trens e tanta gente que não há tempo para pensar quem queremos levar nessa viagem, nem para onde iremos. Passamos tanto tempo distraídos que um bocadinho de concentração não será mais relevante. Dizem que quando percebemos o fim, nossa vida inteira passa em frente a nossos olhos. Todos esses trens, de novo; mas apenas assistimos de fora, de longe. É o tal do passado...

Tem gente que pira, tem gente que gosta e sente até prazer. Esse passado está aqui presente apenas para garantir nosso futuro. O passado é um pai que nos olha e protege. Um pai construído pelas nossas mãos calejadas, um pai com quem não temos obrigações morais. É uma tentação e tanto construir o passado... Pena que já passou. Quem sabe, numa próxima.

Ou até agora, não é mesmo?

Afinal, com o mundo caindo, não temos nada a perder. Veremos como vai ser esse futuro, filho...

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