terça-feira, 3 de maio de 2011

fanteano

Vou subindo a escada, não, Abelardo, você não gasta com essas coisas, não pode, "vem cá, quer ver como se divertir essa noite?", quanto custa, vale um sapato e um saco de laranjas na venda do japonês, a escada acaba, um corredor, não, ainda dá pra voltar atrás, mas você não quer, Abelardo, ah, bem que você queria aproveitar, dois dólares e mais nada, são tudo, o dinheiro da mãe, mas sempre há dinheiro e sempre se pode pedir mais, o japonês pode dar um desconto na próxima, a avó pode mandar mais dinheiro, sempre, aquele meu pai cafajeste bem que podia aparecer, ou um qualquer, verei meu nome na capa das revistas e jornais e todos falarão de mim, ganharei dinheiro, sim dinheiro pra gastar com essas coisa, oh, não, a porta, "entre, se acomode", um quarto comum de motel, o clique da chave atrás de mim, não, Abelardo, arrombe a porta e saia correndo, volte para a sã consciência, seja corajoso, deito na cama, ela sobre mim e tua boca encosta meu pescoço, minha mão sobre teu cabelo e pensamentos, volte, Abelardo, sua mãe, Abelardo, imagine ela quando souber, você está em maus lençóis, me atiro para o outro lado da cama e me sento, me levanto como alguém que se levante em grande estilo e se lembra de um compromisso, afinal minha agenda é cheia e não há tempo para tolices como essa de entrar num quarto qualquer com uma mulher qualquer, ela nem ao menos é loira, Abelardo, o que você faz aqui, saia agora, mas continuo quase deitado, dois dólares e uma cabeça, "dois dólares", pois tome quatro, tenho pressa, visto o casaco e o frio da escada me espera junto com o vazio, a bronca e o machado.

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