terça-feira, 31 de maio de 2011

Vai, não

- Preste atenção, garoto. Não vê o lado frágil desta tábua? Vai cair, vai cair.
- Não vou não, meus pés hão de ser firmes e meu corpo, equilibrado. Ao lado só há o nada; porque temer o nada, se não sabemos o que nele há? Temer o desconhecido é ter medo da luz do sol. E do lado da tábua.
- Tome tento, garoto. Não vê teus cadarços desamarrados? Vai cair, vai cair.
- Não vou não, meus cadarços são meros fios de corda, não têm força para me puxar ao solo. Caso enrosquem nos meus dedos e, por um momento, minha cabeça penda ao chão, logo meus braços me levantarão da queda.
- Cuidado, garoto. Não vê que há um vão nesta ponte? Vai cair, vai cair.
- Não vou não, pois só se não tivesse olhos. No caso de não o tê-los, peço ajuda e oh, lá vem a ajuda. E me tira do sufoco do não-ar-haver.
- Bote os miolos no lugar, garoto, não vê que onde está nem ao menos é ponte, é barco? Vai cair, vai cair.
- Não vou não, e sendo barco, que me leve para longe. Sendo barco, que me equilibre nas águas rasas e nas águas fundas, nas calmas e nas revoltas, e que aporte num cais seguro. Ou noutro barco. Sendo barco, que não fique, acompanhe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário