de vizinha em vizinha,
de bêbado em bêbado,
de pai pra filho,
de garçon aposentado
pra jornaleiro e bóia fria,
começou o falatório
que a moça da rua cinco
(imagine, que vergonha)
tinha ganho um passarinho
que falava, ora essa
e que foi o passarinho
esse tal de papagaio,
que vivem falando nos jornais
"ameaçado de extinção!",
que botou a casa abaixo
gritando pra quem ouvisse:
"olha a traíra, marido, olha a traíra!"
Foi tamanha confusão,
chamaram até bombeiro,
escândalo como esse
a cidade nunca tinha visto.
Parece que a vizinha da vizinha
da prima da dita cuja,
ouviu dizer que todo dia
assim que o tal marido saía pra trabalhar
todas as cortinas eram fechadas
todas as portas trancadas
(até a chaminé tampava!)
e logo depois saía a moça
com seu formoso passarinho ao ombro
passava na padaria,
comprava leite, açúcar e trezentos gramas de pão de queijo,
depois comprava uma revista de costura,
sentava no banco da praça por alguns poucos minutos
(enquanto o sol não estava forte),
depois pegava um graveto no chão
e ia:
brincando, conversando com seus miolos,
até chegar novamente à casa -
e então refazia seu ritual.
Abria as cortinas,
destampava a chaminé,
destrancava todas as portas
e ia tirar um cochilo na poltrona.
Assim que acordava, fazia almoço
e punha a mesa para TRÊS!
Mas nunca, nem ninguém
nem mesmo a faxineira do vizinho americano da frente
viu alguém sentar pra almoçar.
A mesa ficava posta até as sete da noite;
ela vinha, trocava os pratos,
colocava o macarrão recém-feito no microondas,
ia ao quarto, trocava de roupa,
trancava seu armário
e esperava, pacientemente, pela chegada do marido.
Nesse meio tempo,
nem sinal.
A não ser pelo papagaio,
que rondava o telhado,
e ouvia quando o mais novo engenheiro do bairro
que mal tinha se mudado para a maior casa do quarteirão
e se casara com a mulher mais bonita daquelas paragens,
aparecia na porta da casa,
lá pelo meio dia,
e se escondia no banheiro.
Mas isso nem a vizinha da vizinha
da prima da moça
sabia.
Quando o Seu Delegado
chegou com uma tal de autorização
pra uma tal de averiguação
dos "fatos ocorridos",
encontrou nada mais,
nada menos,
do que o marido dormindo na poltrona.
A mulher saíra para trabalhar,
deixara seu papagaio no ombro do homem,
e o tal engenheiro podia ser visto pela fresta da cortina
correndo feito louco pelos telhados adjacentes.
E sai o Seu Delegado
(agora com um tal de mandado de prisão
junto com um de busca e apreensão
do que quer que estivesse com o "elemento")
atrás da criatura.
O encontra no bar da esquina
tomando uma pinga barata
com uma lâmpada na mão.
Seu Delegado pega a lâmpada,
prende o engenheiro,
toma o resto da pinga
e volta pra casa.
No dia seguinte, as manchetes
de todos os jornais
diziam:
"Papagaio malandro salva casal de famoso ladrão de lâmpadas".
Mas a fofoca na cidade persistia
e até hoje dizem por aí
que o tal engenheiro era eletricista,
que o papagaio era a mulher,
que a mulher era a faxineira
e que o homem era,
nada mais,
nada menos,
que Seu Delegado -
que ficou com vergonha
quando descobriu que Adriano, o papagaio,
era Adriana.
SENSACIONAAAAAAAAL! E o papagaio...ma oee...era Adriana.
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