domingo, 12 de dezembro de 2010

Dia de chuva - Parte 2

A filha de Cecília olhava pela janela. Olhava sua vida passar na sua frente, como um filme. Estava de braços cruzados há cerca de uma hora, na janela do hospital.

- Senhorita Marina? O neonatologista gostaria de falar contigo.

E ela foi. Só para ouvir o que já (não) sabia. “Aparentemente, foi um sufocamento com o próprio muco, senhorita. Sua mãe deve ter ouvido a tosse e foi tentar ajudar, mas chegou tarde demais e se assustou de tal forma que não agüentou a dor.” Marina já tinha ouvido o mesmo diagnóstico de três médicos diferentes.

Não, Lua não poderia ter morrido assim, sem mais nem menos. Tinha algo maior. Tinha que haver. Sua mãe tinha o sono ainda mais pesado do que ela. Como acordaria com a tosse da garota, se dormia no andar de baixo? Como que ela mesma não teria ouvido, sendo que acordou com um ruído leve de um esbarrão?

-Senhorita?

“Não, não era possível. Ele não faria...”

-Senhorita, está tudo bem?

“A não ser que... Mas já faz muito tempo... Ela nem se lembraria mais.”

- Marina, acorda!

Era a voz de sua sobrinha. Estava esperando do lado de fora, mas ao ouvir um baque surdo entrara. Seu nome era Estrela. Tinha apenas cinco anos, mas não sabia o que lhe esperava. Já conseguia encontrar seu brinquedo predileto sem titubear. Dali alguns anos, seria a melhor aluna de geografia. E trabalharia como detetive. Mas não sabia de nada disso.

Marina se preocupava. Estrela era muito nova para saber de tudo o que estava acontecendo, mas ela poderia ser de grande ajuda. Preocupava-se com própria segurança. Seu pai se arriscou demais ao trazer sua irmã e ela ao mundo, arriscou muito mais do que a própria memória.

Quarenta minutos depois, uma garota de cinco anos, seguida por uma mulher de trinta e um grupo de jovens policiais estaria seguindo para o aeroporto.

“Do mar
Vem estrela confiante
Traz no ventre a sorte grande
O primeiro de um milhar

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