segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Recorrente medo do receio em si. ♪

Adamantine seguia pelas vielas fracamente iluminadas. Olhava ao redor. A todo tempo. Não parava. Seguia andando, passos curtos e rápidos. Não ia para um lugar específico. Ia.

Ela sabia que sempre seria assim. Sempre os passos furtivos. Sempre o olhar desconfiado. Sempre o mesmo vinho no mesmo bar, sempre no fim. Sempre próximo do fim. Sempre a fuga. Mas nunca se deixaria levar, domar. Por aquilo, ah, aquilo.

Virou uma esquina, virou outra e mais outra em seguida. As quadras iam diminuindo gradativamente, à medida que se acostumava com os buracos no chão. Quando enjoava, mudava a rota. Já fazia alguns meses que andava por ali.

Entrou no já conhecido bar, pediu o já conhecido vinho, pagou com o já conhecido dinheiro. E surpreendeu-se com o desconhecido que o recebeu.

Derrubou o copo. Ele se espatifou de encontro ao piso frio. Derrubou a bolsa, e o pouco dinheiro que ainda levava consigo se espalhou pelo chão sujo do bar. Suas pernas se recusavam a correr. Seus olhos se recusavam a se mover. Seu corpo se recusava a se virar. Sua voz se recusava a sair.

Tudo era inesperado. Possível, mas improvável. Na mente de Adamantine, impossível. Porque não estava previsto. Não estava dentro da rotina. Não estava ali. Não existia. Não, era pensamento. Era apenas isso, ilusão. Ela não queria acreditar. Não queria enxergar. Não queria ouvir, não queria sentir, não queria tentar.

Não queria resistir.

E ali, de frente ao desconhecido, sentiu medo. Mas também felicidade. E se entregou.

E rios de lágrimas surgiram, sob o céu estrelado.

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