quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Alternativas

No meio da noite, ali estava ele. Sentado, os olhos fixos, uma mão no mouse, outra no teclado. Não se movia. Ou melhor, movia seu dedos. A caneca de café, sempre à mão. Já estava vazia há dias, talvez semanas. As formigas já tinham se saciado do açúcar. As moscas foram procurar outro fedor para cercar. Só restava ele ali, de frente para a tela. A face já não se movia para rir, ou mesmo chorar. Os recados na secretária eletrônica já se acumulavam. Sua mãe já estava preocupada, tentava falar com o filho, mas nada. Coitada, não usava twitter, facebook, orkut... Usava email, mas você acha que seu filho abria? Já era coisa de antiquário. Seu violão jazia empoeirado no canto da sala. Provavelmente seus ouvidos já não mais apreciariam uma boa música, uma nota afinada, um cravo bem temperado. O arroz na panela já tinha mofado, a geladeira estava vazia. Seu estômago também, mas que diferença fazia? Agora se alimentava de luz. E ainda assim se alimentava mal, pois a luz era artificial. Todas as suas lâmpadas já tinham queimado, mas sua conta de luz seria alta, como sempre. Estava magro, faltava-lhe energia para tudo. Seus livros? Comidos por traças. Até que um temporal desaba. E a cidade fica sem luz. Como viveria agora?

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