quinta-feira, 30 de junho de 2011

Asta-i drept, pe Dumnezeu.

     Ele vinha vindo, assim, de mansinho. Olhava prum lado, pro outro, de longe. Prosseguia alguns passos incertos, seus olhos rastreavam o ambiente e, oh, aqui estava, bom dia! Sentava do lado, falava sobre o tempo, goiabas estragadas, a puta da esquina. Puxava um assunto e, se o outro entrasse na brincadeira, continuava. Sentava como que se levantando. Talvez por isso não fizesse tanta falta. Era ininterruptamente efêmero.
     O tempo, para ele, não era. Já foi, mas não será. Vai por inércia. As lâmpadas do seu quarto queimaram há décadas. Poderiam ser somente alguns dias, mas ela continuava queimada.Seu papo taciturno talvez entediasse. Gastava silêncios como um ofegante: aos montes. Selecionava as melhores palavras e as distribuía a conta-gotas.
    Carregava um peso nas costas e outro na consciência. Cobria os braços de casacos como seu id de muros. Cobria os negros fios de cabelo os olhos igualmente negros, e nos deixava na dúvida quanto à sua veracidade.
     Ganhava inúmeros presentes em pensamento, mas jamais os retribuía. Afinal, eram irreais.
     Não garantia seu futuro, embora próximo e necessário; porém era, por si só, um poço do passado.
     Lento, seguia caminhando, um pé na frente do outro, um passo de cada vez. Ouvia Chico e derramava baboseiras românticas. Dispersava-se em ideias, transbordava dinâmica. Acabou a música e já não é mais o mesmo: laconismo.
     Não era comum, tampouco absurdo. Sabia ler, escrever, falar, respirar e ouvir. Nessa ordem. Não era humano nem desnaturado. Arte-final não era, mas o esboço tinha ficado para trás. Poderia bem estar em extinção. É, talvez estivesse.

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