quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

patinetes, férias, outono.

lá estava eu
de frente pra parede
sem dizer um ai
ou coisa que o valha
sonhei que estava ali
de frente pra janela
olhando, à minha volta,
a sobra de comida
na panela de pressão
peguei um livro, li
refleti, matutei, guardei
pensei que isso me cansa
isso de pensar
isso de guardar
de rimar
é total desnecessário.
postei uma carta
no correio lá do centro
depois pensei: pra quê?
já que tem um correio bem ali,
na esquina?
dá pra ir de patinete!
até mesmo o passarinho
do outro lado do mundo
me ouviu.
resolveu me responder
dizendo a todo mundo
que eu era louca, pirada.
falava com as paredes, janelas,
pratos, panelas e copos
ou mesmo cabelos.
eu não fazia sentido pra ele,
era só mais uma desocupada
sem nada pra fazer
ou pensar, ou nadar, ou correr...
passarinho, tire férias!
vá brincar de pega-pega,
esconde-esconde ou
amarelinha.
senão cansa!
ser chato o tempo todo
cansa!
hoje não é primavera,
mas as flores estão bem bonitas.
estão florescendo.
passarinho, vá brincar com as flores!
hoje é outono, mas não nos interessa.
as folhas verdes da primavera
são mais bonitas e cheirosas
do que as folhas ressecadas, vermelhas,
amarelas, laranjas e pelo chão
de outono.
eu sei que preciso aprender,
falo com as paredes,
sou apaixonada por cadarços,
olhares, bermudas e sons,
gosto de pular, pular e pular,
e fico feliz só de enxergar alguém.
mas, passarinho! olhe pra você!
tentei falar contigo, mas acho que errei.
fui pelo jeito errado de falar.
devia ter esperado, esquecido,
espairecido.
mas o estresse é grande, ninguém aguenta!
olhe lá, o mar.
lá é quente, há comida e outros passarinhos
e passarinhas. vá lá,
passarinho! viva sua vida
enquanto é tempo!
ninguém tem o direito de tirá-la de ti!
nem mesmo eu!

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