sexta-feira, 15 de abril de 2011

Não

Nego que estou, nego que não estou. Cada hora é um, cada hora é diferente, cada hora tem lágrimas. Ou não. Às vezes tem consolo de brinde, mesmo inconsciente. Às vezes não. Geralmente talvez. Agora vejo um rosto, viro a esquina e oh!, lá está outro, mais dois passos e me lembro de mais um. Ou mais outro. Falta um pouco de paz, falta um pouco de raiva, falta um pouco de decisão, um pouco de cara de pau. Falta um pouco de tudo. O pouco que me resta tem penas e asas, e voa. Antes de sair, deixa um bilhete de angústia. O cavalinho não tem mais quem cuide dele, então deita no chão e espera. E passa fome. Não faz com que vire do avesso, faz com que mude. Não necessariamente. Acendeu a vela derradeira: a cera, quando pinga, deixa rastros inefáveis. E acaba, último. Pega o fósforo e o queima, até o final. Sente prazer com o esgotamento. Com o fim. Com o não. O mundo saindo, o pescoço virando de torcicolo fingido. A lembrança do falso adeus, do tchau inexistente. E do telefone, ou não. Das unhas e da mão, vaga e verde. Ainda não é hora de colher. O dia entra pela fresta na blusa, o vento entra pela fresta no olho e a música sai pelos ouvidos. O rasgo na porta deixa a dobradiça escapar. E nada de correr atrás. Apenas a suposição já aterroriza, internaliza e arterializa. Desce pra dentro. Porque não vivo no éter, bebo da poeira prolixa de estrelas. E enquanto procrastino o momento da breve exatidão, julgo o sim.

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